MESTRE BITINHO

Último Herdeiro do segredo da Cerâmica Saramenha

Os pequenos ceramistas brasileiros sempre processaram a argila dentre de padrões artesanais, utilizando materiais acessíveis as suas posses e facilmente encontrados em suas regiões, transmitindo seus conhecimentos aos descendentes e fazendo de sua arte um ofício do qual tiravam o seu sustento.

Particularmente a cerâmica denominada saramenha, cujo processo de fabricação remonta a 1.000 anos A.C, veio até nós pelas mãos de imigrantes portugueses. São peças rústicas, em sua maioria, vasos, pratos e jarras vitrificados a baixa temperatura em fornos de tijolos alimentados a lenha.

Presumia-se, entretanto, que o segredo da cerâmica saramenha estivesse perdido no tempo, em decorrência da industrialização do ferro e a desvalorização dessa atividade.

Em 1982, Petrus Arcangelus, artesão e então vice-presidente da AMA – Associação Mineira de Artesãos, foi contratado pela AÇOMINAS para um levantamento do potencial cultural da região. A sua surpresa foi grande ao encontrar em Ouro Branco, em perfeito estado de conservação e uso, inúmeras peças saramenhas. E maior ainda ao identificar um dos últimos – senão o último herdeiro do segredo da fabricação da cerâmica, tida como preciosidade dos museus.

Numa pequena oficina à Rua José André, 92, “Seu” Manoel Silvestre Guardiano Salgueiro, o Bitinho, fabricava suas peças, dando continuidade à tradição que lhe foi passada pelo pai num trabalho que está em sua família há mais de 300 anos.

Nas duas filhas ou no filho, Bitinho em vão tentou despertar o interesse pelo oficio e por isso “adotou” um filho a quem ensinou tudo o que sabe. Rosemir Hermenegídio passa seus dias entre o forno de lenha e o pilão, descobrindo pouco a pouco o segredo da mistura do chumbo derretido com o manganês, a oca e o cobre que lhe dão a cor.

Sua preciosa arte mereceu, no carnaval de Ouro Branco, justa homenagem em forma de samba-enredo: “Meu povo na avenida outra vez/ vai mostrar o que ele fez/ como era Ouro Branco criança, e sua arte popular/ de Athaíde na Igreja a Bitinho, mestre singular”. Suas peças não fazem estoque; são vendidas praticamente por encomenda e a produção não consegue atender à demanda das lojas que as revendem com status de antiguidade.